Ultimamente tenho
andado tão sem inspiração que tenho a impressão de que todas as palavras
sumiram de dentro de mim ou que estou vazia por dentro. Quando estou sem
inspiração me sinto fora do meu habitat, fora de sintonia, fora de forma, fora
de foco. Sinto-me vazia, imune, perdida. Fico sem definição, sem percepção, é
como se eu tivesse perdido minha identidade. É como se o mundo parasse e
esperasse eu tomar uma atitude. Aquela atitude, quando alguém te sacode e diz:
- Ei, você aí? Acordaaaa...o mundo não parou.
Ele continua girando.
O relógio está batendo, ouça o seu tic tac,
o sol continua nascendo, se pondo e nascendo novamente. O avião está
prestes a decolar, o ônibus está saindo da rodoviária neste instante com todos
os seus passageiros, as pessoas estão trabalhando normalmente.
Sinta o vento, ele também
continua soprando. A primavera logo estará ai novamente. O verão findará e o
outono baterá na nossa porta em pouco tempo e logo dará as boas vindas para o
inverno. Ele chegará e precisaremos nos agasalhar, porque lá fora tudo se
encolherá e o frio soprará na nossa direção gelando nossos corpos.
A cortina se abriu
tocada pelo vento e sobre ela vi lá fora o tempo passando, ele realmente não
parou. Tudo continua normal. A vida lateja como meu corpo e tudo se move ao
mesmo tempo. É uma sinfonia de prazeres. Uma orgia em movimento.
Continuo olhando pela janela, vendo o tempo
passar e esperando a inspiração retornar. Tenho a impressão de que ela partiu
em viagem e não sei se retornará. A estrada está coberta pela poeira e parte
dela ficou invisível. Não consigo ver se a inspiração está apontando no final
da estrada ou não. Meus olhos lacrimejam para não perder o foco e a direção do
caminho.
Em muito pouco tempo o
vento parou e a poeira foi baixando devagarzinho. Ao longe, lá no final
estrada, no colo do horizonte, vi a inspiração, tímida, surgindo como quem não
quer nada. Cabisbaixa com sua mala de
couro na mão vêm caminhando na minha direção e eu fui ao seu encontro. Meu
coração parou e minha alma sorriu de felicidade.
Abraçamo-nos e
começamos a partir dali uma nova era.
Rita Padoin
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