domingo, 25 de novembro de 2012

BREVE ADEUS

Vieste sem avisar, sem nenhum sinal, nenhuma notícia, apenas reapareceu como o sopro do vento. Reascendeu o que tinha ficado adormecido num tempo distante e sem nenhuma esperança. Balançou os monumentos, revolucionou o tempo, movimentou o mundo, remexeu as estruturas, acalentou o coração, tremeu as bases.
 
Era uma manhã de outubro. O dia estava cinzento. Da janela fiquei a observar os movimentos do mundo, cada traço, cada som e senti uma breve e momentânea felicidade.
 
Olhaste dentro dos meus olhos e sentimos que a saudade apenas tinha ficado num caminho distante. Relembramos um tempo de pura expectativa e sonhos. Um tempo que reascendia uma chama de eterna magia. Tudo voltou naquele breve momento de relembranças.
 
Nas gavetas do tempo as folhas amareladas e tímidas do passado não se moveram, ficando apenas o que era superficial. Com um simples adeus foste no mesmo instante que vieste. Teu vulto foi sumindo pelo caminho e o tempo parou para acenar com um adeus tão breve quanto a tua chegada.
 
Em meio ao nebuloso, sem nenhum entendimento, sem nenhuma resposta tu te foste. As interrogações ficaram soltas sem nenhuma pergunta. Sem nada a entender viraram exclamações que verteram em nada diante do tudo que estava à nossa frente.
 
 Assim, evaporou o que ainda tinha restado de uma lembrança passada. O ciclo se fechou e a vida chama para um novo e esplendoroso início.
 
Autora: Rita Padoin

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Medo

O medo nos impede de viver, de realizar aquilo que idealizamos. O medo cria atalhos momentâneos que nos faz criar monstros dentro de nós engolindo nossa força, nossa segurança de seguir em frente, nossas oportunidades e nossas energias.
Estes monstros são tão poderosos, que quando percebemos perdemos tudo aquilo que deveria ter acontecido e acaba não acontecendo; ele devastou com tudo em questão de segundos.
São os nossos fracassos gerados pelo medo que se apoderam da nossa fraqueza derrubando os muros que pensávamos que era a nossa fortaleza. É o medo de seguir em frente que acaba derrubando essa fortaleza e todos planos feitos durante toda nossa existência.
O apego gera conflito interior e exterior, levando a uma batalha conflitante onde ambos acabam se machucando por querer um à felicidade do outro.
Esta felicidade se for analisar com calma, chegaremos a uma conclusão que a felicidade que tanto almejamos para as pessoas que amamos, é a nossa felicidade frustrada, que há anos buscamos e não conseguimos atingir o seu cume.
Esta felicidade é aquela que buscamos e idealizamos fora, não percebemos que ela está ali dentro de nós desde a nossa existência nos cutucando e não observamos seu chamado. Não observamos por estarmos preocupado demais com a felicidade daquele que está ali no nosso lado e nem perguntamos a ele se é esta a felicidade que ele idealizou.
Geralmente as pessoas que amamos têm outros planos, outras realizações, outras idealizações, outro caminho a seguir, já que eles têm vida própria e liberdade de espírito.
Pensemos nisso com carinho, o desapego é fundamental para nossa felicidade e a felicidade de quem vive ao nosso redor...

Rita Padoin

sábado, 17 de novembro de 2012

LANA DEL REY - BORN TO DIE


TRAÇOS DA VIDA

Olho-me diante de um enorme espelho sem molduras e vejo um rosto pálido, sem vida, querendo renovar e dar forma novamente. Vejo um corpo estagnado tendo que sair de seus movimentos normais sem que seja visto. Vejo os olhos amadeirados, sem luz apenas observando cada detalhe. Vejo os braços parados como se estivessem mortos e as pernas lado a lado querendo correr e sair deste pequeno quadrado de 3 x 3 e desvendar cada célula.

Quero sair da frente deste grande espelho e viajar juntamente com a grande ave que abriu suas enormes asas só para que eu me aconchegasse dentro delas. Essas asas colossais coloridas bateram suavemente querendo alçar o voo da eternidade. Quero ter a mesma liberdade e voar nos quatro cantos deste universo para desvendar todos os mistérios escondidos.

São nas grandes e velhas construções do passado que ficaram os grãos de areia tornando-se maciços junto com as pedras desenhadas pelas mãos de cada um de seus elementos bárbaros.

Meus pés uniram-se para pensar em como sair deste grande e sombrio labirinto que foram feitos para eles. São labirintos que podem ser desvendados e levados para uma grande área verde de um vasto laranjal, doce como a primavera.

Da janela lateral se vê colinas íngremes e verdes de oliveiras enfileiradas uma a uma, como se fossem um desenho geometricamente calculado. As árvores baixas de troncos retorcidos ungentam com seu doce óleo o corpo, iluminam a noite e suavizam a dor do doente.

Tu, querido andante, que surgiste com o céu da cor âmbar, estendeste um olhar horizontal para cada centímetro do espaço que teus olhos alcançaram. Presenciaste grandes extensões de terras verdes, da cor dos teus olhos. São grandes extensões, como lençóis esticados e bordados delicadamente, como se o leito da vida estivesse ali querendo me acolher.

A grande viagem levou-me a vitoriosas lendas do passado e o sonho de sair dali elevou o grande mestre a localizar sua imensa casa. O corpo se olhou perplexo pela fenda do seu inacreditável mundo e o espelho imóvel apenas observou tudo calado.
 
Rita Padoin

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A TRISTEZA

Já sofri tanto que chorei até não aguentar mais. Troquei a noite pelo dia. Vi a dor rir de mim e não pude fazer nada para impedi-la.
 
Já ri tanto de felicidade que meu peito parecia explodir. Cantei alto e em bom tom para que a tristeza não ouvisse os meus lamentos e nem me visse; assim não teria como ela ficar. Era tão alta minha voz que nem percebi que a tristeza emudeceu.
 
Troquei as fechaduras das portas e pintei a casa de outra cor, assim a tristeza foi embora pensando que eu tinha me mudado. Ela se perdeu em vários caminhos que planejei para que não me achasse. Senti que ela se entristeceu e foi saindo devagarzinho, sem fazer nenhum barulho.
 
Atrás das cortinas fiquei a observá-la. Vi que seguiu seu caminho, cabisbaixa sem olhar para trás. E eu segui o meu sem pensar na tristeza; a música me fez companhia e abraçamos a felicidade juntas.
 
Rita Padoin
 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

VIVO EM BUSCA

Vivo em busca do que me da prazer. Em busca do eterno, do verdadeiro, do sensível, do misterioso. De tudo que faz valer a pena conquistar e do que faz vibrar meu coração.

Busco desesperadamente novas emoções. O que me acomoda me mata, tira cada dia um pedacinho de mim. Sinto a morte me levar a cada segundo se não estiver sempre em busca de novas e intensas aventuras.

Não gosto do que me deixa estagnada. Quero sempre o movimento, as rotatividades do tempo, das estações, das águas, do vento, da lua.

Quero a busca do que me repreende, do que é proibido, quero ser conquistada, quero a conquista.

Investigo cada segundo procurando novos caminhos que me intensificam. Quando encontro, procuro outro e mais outro. Nunca me canso de procurar e de buscar. Cada caminho é um caminho. Cada conquista é diferente, é prazerosa.


Eternizo os momentos, reinvento minhas loucuras, mato saudades que não sei de onde vêm. Faço renascer minhas necessidades abundantes de inspiração.

Rita Padoin

quinta-feira, 1 de novembro de 2012