sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

UM OUTRO OLHAR

Interessante como nosso cérebro voa. Como ele capta aquilo que interessa, vive a mil numa dimensão espetacular. No mesmo instante em que estamos pensando em algo, logo estamos pensando em outra coisa. Em questão de segundos mudamos nossa maneira de agir e nosso humor. É impressionante a capacidade de busca, agora, por exemplo, estou olhando pela janela do meu trabalho e vendo o jardim, ele me inspira paz e tranqüilidade. Esse jardim, na verdade é uma praça, com muitas arvores, tem uma arvore com três tipos de flores: amarela, lilás e rosa.

Fiquei alguns minutos analisando e percebi que são duas arvores. Seus galhos misturaram-se e a terceira flor, a de cor rosa, na verdade é uma orquídea abraçada na arvore amarela. Sua cor rosa chega a ser angelical apesar da cor rosa forte, no meio dos musgos agarrados em todo o tronco, ela se sobre sai em meio ao verde natureza. 


Estou pensando que tipos de arvores são, de que ordens pertencem. Decidi fazer uma pesquisa, me aprofundar mais sobre sua origem. Claro! Minha pesquisa levou-me a perceber que era o Ipê, a arvore que inspira poetas, escritores, namorados e até políticos! Seu florescimento exuberante é seu traço mais marcante e o que a torna tão espetacular.


Tantos anos olho pela mesma janela e só hoje percebi que a árvore que tanto admiro e me inspira é o ipê. Que engraçado, como somos estúpidos, como as coisas passam por nós e não percebemos.
O lugar é o mesmo, nada mudou, as arvores são as mesmas, mas, meus olhos a cada dia vêem de forma diferente, cada dia o jardim está mais bonito, mais inspirador.


Como seus troncos estão cheios de musgos, que lindo. Queria ser uma bióloga, estudar suas variedades, quero me perder estudando as arvores, quero ser sua dona, cuidar delas. No chão do jardim, uma parte é gramado e as sombras de suas folhas formam desenhos de várias formas e ângulos, deixando geometricamente irregulares, dando um perfeito efeito translúcido. Quero falar mais sobre tudo que tem no jardim, mas, não conheço suas famílias, por isso quero ser uma bióloga.


As pessoas sentam-se nos bancos embaixo das arvores e nem se dão conta do espetáculo, estão alheias ao que está se passando neste momento. As pessoas continuam sentadas e nem imaginam que tem alguém muito próxima delas descrevendo com detalhes o jardim, o canto dos pássaros parece que hoje estão mais intensos, e com uma melodia dizendo que o final de semana está chegando.


Sempre que minha alma chora ou lamenta por algo que não sei o que é, de onde vem, como chegou até mim, olho pela janela e a paz reina, sua beleza eleva-me. Minha alma sempre sorri quando olho o jardim. Pensei na borboleta, procurei mas, não tem nenhuma no jardim.


Não sei se amadureci ou estou louca. Claro que amadureci. Cresci. Vejo o que não via, percebo o que não percebia, busco o que não buscava, ignoro o que não ignorava. O que passava por mim despercebidos hoje tem um valor inestimável.


Rita Padoin

NANDO REIS - MANTRA

O INVERNO FINDOU-SE

O inverno findou-se. Já é primavera, seu bálsamo inundou meu quarto. Percebo que a primavera me desperta. Estou saindo do labirinto angustiante em que me meti. Vejo um caminho sem muitas curvas, sinto-me aliviada. Meus pés estão dormentes, estou muito cansada, o trajeto foi longo e doloroso. 

Preciso levantar-me e uma pontada de tristeza invade meu peito. É hora de ir. Estou melancólica, amanheceu. Na verdade não quero ir, quero ficar aqui e alinhar-me na esperança do tempo que veio sem avisar.


E quem sabe? Quem sabe, começamos agora, no hoje. O amanhã não o temos e o ontem já se foi. Só resta o hoje. Rápido tenho pressa, pressa de viver, pressa de resgatar tudo o que deixei lá traz por medo e insegurança, insegurança? Medo? De que? Não sei. Tudo parece muito longe do meu alcance, tento pegar e não consigo, é tão estranho, olho o mundo, ele gira, gira sem parar, estou tonta, sinto escorrer entre meu malar a vertente da minha sensatez.


A música quebra meu silêncio. A batida do instrumento acorda meu coração estagnado. É quase noite novamente de um feriado no meio da semana, no horizonte há nuvens densas deixando o final do dia triste. Transporto-me para dentro da musica e escrevo, escrevo sem parar. Ela me leva ao mais alto grau da minha loucura, sinto-me leve, quase flutuo, meu Deus isso é bom demais.


Não quero contar nem a mim certas coisas que estão trancafiadas dentro de mim. Procuro alguém para dividir o que sinto. Acabo dividindo comigo mesma. Eu me entendo, eu me compreendo, isto tudo é perfeito. O silêncio é tão silencioso que entro em harmonia com ele e viajo no interior de minha alma, sinto um alivio. Nosso encontro deixou-me conectada. 


Gosto desta sensação de paz. Ela me transporta para o infinito e viajo sem parar até encontrar um pouso.


Rita Padoin