Muitas vezes tenho vontade de ser
extremamente cruel. Uma crueldade que dilacera o que vem pela frente, sem dó e
nem piedade. É uma vontade cruel que chega a doer e provocar a morte. Depois
esta vontade passa.
Às vezes me sinto tão só que fico com
dó de mim. É uma dor que machuca o peito.
É como estou neste momento, dilacerada,
por dentro e por fora. Uma dor cruel onde morte e vida se misturam numa mesma
intensidade, como se fossem uma só. Perpetuei-me para não me tornar monstruosa
diante do que estou sentindo.
Sinto-me uma exclamação. Verto-me horizontalmente como
a água do rio a contornar os obstáculos para chegar de encontro ao mar e se
fundir em um só. Sou o que penso ser, sou assim como imagino, sou a liberdade
em forma de sopro, sou o ar que respiro.
O mundo
respira num eterno silêncio. Eu respiro e o silêncio fica dentro de mim, me alimentando.
Tento me encaixar em algum molde que encontro e não consigo. Estou fora de
forma, fora de foco, fora do contexto. É ilimitado meu pensamento, uma mistura
sem definição.
Somo as incompreensões, multiplico as
indiferenças e faço todos os cálculos matemáticos para compreender o
incompreensível.
Não consigo saber mais quem sou, é
curioso. Estou num mundo tão silencioso que fico com medo dele. Estou com medo
neste instante, um medo que não sei descrever. Não é do silêncio que eu tenho
medo é de mim mesma, é do que tenta se apossar de mim neste momento.
É momentâneo, mas, este intervalo
parece que me engole num único e irresistível sopro. É a imaginação do momento
me engolindo.
Rita Padoin
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