sábado, 17 de novembro de 2012

TRAÇOS DA VIDA

Olho-me diante de um enorme espelho sem molduras e vejo um rosto pálido, sem vida, querendo renovar e dar forma novamente. Vejo um corpo estagnado tendo que sair de seus movimentos normais sem que seja visto. Vejo os olhos amadeirados, sem luz apenas observando cada detalhe. Vejo os braços parados como se estivessem mortos e as pernas lado a lado querendo correr e sair deste pequeno quadrado de 3 x 3 e desvendar cada célula.

Quero sair da frente deste grande espelho e viajar juntamente com a grande ave que abriu suas enormes asas só para que eu me aconchegasse dentro delas. Essas asas colossais coloridas bateram suavemente querendo alçar o voo da eternidade. Quero ter a mesma liberdade e voar nos quatro cantos deste universo para desvendar todos os mistérios escondidos.

São nas grandes e velhas construções do passado que ficaram os grãos de areia tornando-se maciços junto com as pedras desenhadas pelas mãos de cada um de seus elementos bárbaros.

Meus pés uniram-se para pensar em como sair deste grande e sombrio labirinto que foram feitos para eles. São labirintos que podem ser desvendados e levados para uma grande área verde de um vasto laranjal, doce como a primavera.

Da janela lateral se vê colinas íngremes e verdes de oliveiras enfileiradas uma a uma, como se fossem um desenho geometricamente calculado. As árvores baixas de troncos retorcidos ungentam com seu doce óleo o corpo, iluminam a noite e suavizam a dor do doente.

Tu, querido andante, que surgiste com o céu da cor âmbar, estendeste um olhar horizontal para cada centímetro do espaço que teus olhos alcançaram. Presenciaste grandes extensões de terras verdes, da cor dos teus olhos. São grandes extensões, como lençóis esticados e bordados delicadamente, como se o leito da vida estivesse ali querendo me acolher.

A grande viagem levou-me a vitoriosas lendas do passado e o sonho de sair dali elevou o grande mestre a localizar sua imensa casa. O corpo se olhou perplexo pela fenda do seu inacreditável mundo e o espelho imóvel apenas observou tudo calado.
 
Rita Padoin

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