AS PALAVRAS
As palavras jaziam. Escorriam entre as linhas vazias e vertiam abundantemente umas sobre as outras. Elas se encaixavam perfeitamente, como flores desabrochadas numa estação primaveril. Pendiam quando estavam em desalinho. Perduravam quando o tempo colaborava. Envergavam vez ou outra, até quase se desmontarem, mas a maioria das vezes realinhavam ordenadamente como um lençol ao vento. Assim eram as palavras. Ordenadas algumas vezes, como o balé, leve e sensual. Desordenadas a maioria delas, como o raio a riscar o céu, sem uma noção certa de onde vai atingir. Assim são as palavras, todas com um duplo sentido, porém com um paladar apurado.
Rita Padoin
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