domingo, 20 de março de 2016

HOUVE UM TEMPO

Houve um tempo em que eu abria a janela e tudo era colorido.
Hoje, ao lado da sacada, apenas um vaso vazio.
As flores secaram e eu nem percebi.
Restaram apenas as suas raízes mortas,
Tão mortas quanto o momento presente.
Na rua o que me parecia óbvio,  
A solidão falava uma linguagem desconhecida.

Olho da sacada as pessoas passando
E nada me diz de concreto.
Os carros passam a uma velocidade que mal posso vê-los,
Os passarinhos cantam enfileirados como se fossem um coro.
O canto preenche o vazio do momento e o silêncio apenas observa.

Os jardins estão sem vida.
As flores se recolheram
Talvez, porque é outono.
Tempo de recolhimento.
Talvez, eu também esteja em recolhimento.

Já abri a janela outras vezes e da sacada as flores sorriam para mim.
O vaso que está vazio, já floresceu.
Era tempo de floração,
Era primavera.
Estou feliz em saber que tudo é do jeito que precisa ser:
Que a vida é um pulsar de energias vibratórias,
Que as primaveras vêm e se vão.
Nada será diferente do que tem que ser.

Rita Padoin


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